segunda-feira, 23 de julho de 2012

Queria querer um velho canto

Eu queria um canto pra desabafar, porque os cantos soam desabafantemente libertadores.
Queria um canto pra me guardar de tudo o que me move contra o que eu acredito.
Queria tanto um canto que cantasse um conto do canto especial pra me manter simplesmente cantante.
Ai, como eu queria um canto doce de um tempo que cantava contando cantos futuros empreteritados.
Quero inventar as palavras dos cantos pra cantar no canto um novo cabimento de viver.
E esse canto aqui vou deixar pra quem quiser cantar um canto que não me liberta mais.

Para viver à noite

Antes de amanhecer há pouca luz para as mentes confusas que gostam de viver à noite.
Após amanhecer, há muita luz para as mentes que gostam de viver à noite.
O lusco-fusco é a hora de exteriorizar, para quem gosta de viver à noite.
Os pobres pensamentos aprisionados na escuridão ganham sua parcela de vida para interação.
São breves momentos de vida livre.
Poucos instantes para interagir e exteriorizar claramente as ideias criativas de quem gosta de viver à noite.
Se quem gosta de viver à noite tiver consumido algo que altere a percepção, como álcool, deixa de aproveitar o lusco-fusco.
Se sobreviver muitos lusco-fuscos sóbrio, é porque não gosta realmente de viver à noite.
Limitada a expressão de quem gosta disso de viver à noite.
Mas viver de dia é só sol.
Viver ao sol, com todos amontoados procurando a luz, como insetos, não é vida.
Mas também não é vida viver só à noite.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Lucy in the sky

Não faz diferença!
Esta era a resposta da Janete, cada vez que sua filha, Lucy, de 5 anos, argumentava um motivo para não fazer a viagem de férias para a casa da avó paterna, Dona Laura.
Mas mãe, a vó tem um cachorro bravo que não gosta de mim!
Lucy, você vai porque seu pai prometeu, e ponto!
Mãe, não pega celular na casa da Dona Laura.  Como vou conversar contigo, mãe?
Meu amor, tem telefone fixo e eu te ligo todos os dias quando chego do trabalho, mas você só vai ficar até domingo.  Fique tranquila.
E Lucy, não faz diferença.  Não há argumento seu que te libere do compromisso de ir para a casa da sua avó.
Quando as duas chegaram na casa da Dona Laura, a velha esguia e enrugada estava ao fogão, preparando bolo de brigadeiro e o cheiro era maravilhoso.
Sentiram da porta, mas Rodolfo, o Rotweiller, não aceitou facilmente as visitas.
Latiu babando o portão quando viu Lucy e Janete.
Realmente, Rodolfo não gostava de gente do lado de fora do portão.
Dona Laura veio correndo, ordenou baixinho para Rodolfo ficar quieto e ele obedeceu.
As duas entraram.
Lucy tremeu quando passou ao lado do cão sentado e, sentiu a respiração do Rodolfo no seu braço.
Janete alertou Lucy antes de chegarem para que não fizesse desfeita na frente da avó.
Lucy, boa menina, obedeceu.  Ao menos na frente de Janete.
Quando a mãe se foi, Lucy ficou sentada, imóvel, na cadeira da cozinha, onde o cheiro do bolo era forte e doce, quase enjoativo.
Lucy adorava chocolate, mas tinha um medo tremendo de Dona Laura.
A verdade era que mal se conheciam.
Dona Laura era alta, magérrima, tinha cabelos longos, marrons quase ruivos e olhos verdes.
As unhas sempre feitas e o rosto sempre maquiado davam-lhe uns 15 anos a menos dos 60 que tinha.
Lucy nunca ficara sozinha na casa de Dona Laura e o fogão gigante a assustava.
Lembrava-se sempre da história de João e Maria na casa da bruxa malvada, quando olhava aquele fogão.
Dona Laura não era do tipo que fica tentando agradar qualquer um, mas gostava muito da neta.
Lucy era parecida com a mãe.
Tinha os cabelos finos, castanho claros e os olhos castanho escuros.
A pele era clara e o tamanho da menina era bem normal para a idade.
Dona Laura convidou Lucy para ver o bolo que acabara de tirar do forno.
- Sinta o cheiro Lucy.
Lucy aspirou o aroma do bolo e tonteou.
Voltou para a cadeira e disse, educadamente: Que delícia, vó.
Dona Laura fez um café para si e um chocolate quente para Lucy.
Comeram o bolo ainda quente.
Quando terminaram, Dona Laura disse para Lucy que podia ir brincar no jardim, se quisesse.
Lucy saiu saltitando, feliz por não ter que ficar dentro de casa.
Afinal, estava de férias e já passava o ano inteiro entre quatro paredes.
Quando saiu pela porta, Rodolfo a encontrou, balançando o rabo como criança.
Parecia que Dona Laura encantava o cão.  Ora ele era um  monstro, ora um bebê bobo.
Lucy, a princípio ressabiada, esticou o brancinho rumo ao fucinho de Rodolfo.  Ele baixou a cabeça e aceitou o carinho da menina.
Rodolfo era um bom cão, contanto que não mexessem em sua calda cortada.
Lucy entendeu logo que tinha um parceiro.
A casa de Dona Laura era estranha para ela.  Tinha quintal, cão, doces, vizinhos para brincar e paparicos que os pais não davam à filha.  As novidades assustam crianças de cinco anos que tem horário até para escovar os dentes.
Dona Laura, animada com a visita, tratava Lucy com os mimos que não deu aos filhos, pois, assim como os pais de Lucy, Dona Laura trabalhava quando tinha os filhos pequenos.
Quando passou o fim de semana e Janete veio buscar Lucy, ela começou a ladainha ao contrário, com trocentos motivos para ficar mais uns dias com Rodolfo e Dona Laura.
Janete já veio com sua resposta automática ligada: Não faz diferença Lucy.
Não podemos, querida.
Não temos tempo, meu amor.
A vovó vem nos visitar.
Não, o Rodolfo não pode vir com ela, querida.
Não, não e não...
Janete, coitada, está condicionada.  Assim como Dona Laura estava quando trabalhava, cuidava da casa e dos filhos.
Dona Laura disse adeus à neta com lágrimas nos olhos, esperando que logo Lucy voltasse para que ela ficasse apenas olhando, feliz, a neta brincar solta, com a calma e tranquilidade que não teve vendo os próprios filhos brincando.
Mas é assim mesmo, hoje em dia: as pessoas trabalham e fazem filhos, e cuidam da casa, e estudam...  E fazem de tudo um pouco, do jeito que dá, que é o melhor que podem fazer.
Essa vida moderna é tão moderna que quando se inventa de ter uma vida mesmo, algo além do 'segunda à sexta', mal se respira.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Então, você é responsável pelo que diz, mas, não pelo que os outros entendem? Fale-me um pouco mais sobre sua capacidade de comunicar-se Oo!

Pense comigo:
Se, em um diálogo, eu explico algo para alguém... Explico do meu jeito, do jeito que eu entendo. Passam alguns instantes e percebo que a pessoa não entendeu bem o que expliquei, então, conto mais detalhes e uso outros exemplos.
Daí, ela entende.
Ok, agora pense mais um pouco comigo: se eu for responsável pelo que eu falo, mas não me responsabilizar pelo que meu interlocutor entende, posso praticar monólogos, em vez de diálogos, que dá tudo na mesma.
A Raposa do Pequeno Príncipe disse: 'És eternamente responsável por aquilo que cativas'. Eu gosto de estender este pensamento às palavras que disparamos: somos responsáveis pelo que dizemos, mas, principalmente, somos responsáveis pelo que os outros entendem, pois isso depende exatamente da forma como nos expressamos.

Então, você é responsável pelo que diz, mas, não pelo que os outros entendem?
Fale-me um pouco mais sobre sua capacidade de comunicar-se ^^!